Let there be light....

Esse blog que até então não tinha serventia alguma acabou de ganhar um função, vai servir, pelo menos, pra guardar textos antigos meus. É possível sim que com um pouco de sorte esse blog se torne algo produtivo, ainda que não reprodutivo, mas por hora fica servindo de arquivo mesmo.

Foda-se o mundo que eu não me chamo Raimundo...

Antes que eu me esqueça, a maioria desses textos me dão nauseas só de reler, mas eu não vou ser hipócrita a ponto de renegar meu passado sombrioooo [uivos e barulho de ondas se chocando contra um penhasco]

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Crônicas de Gaia - Livro 1 - A Maldição do Lobo

Cap. 1 - Lobo Solitário

Al Qahirah (Cairo), 22 de Setembro, 1989 - Sob a proteção do exato último quarto minguante da Lua, nasce mais um filho de Gaia. Um garoto demasiado quieto, no berçário era o único a dormir tranqüilamente enquanto outros recém-nascidos, incomodados pela simples existência do garoto abriam berreiros. O pobre ainda não sabia o que aquilo significava, mas sua tranqüilidade no sono se dava devido a um odor pitoresco no ar, o cheiro do medo.

Qârûn, 2 de Maio, 1994 - O garoto cresceu, agora beirando os 5 anos de idade, em um colégio simples na cidade encrustada no meio do deserto começa a descobrir o quão cruéis podem ser os seres humanos. Crianças brincam e correm, divertem-se mas meio que em um acordo silencioso todas tem o mesmo comportamento o evitando. Não se aproximam, se quer o conseguem encarar e sempre que o garoto tenta uma aproximação fogem dele, tal qual fugiriam de um predador.
No ar o mesmo cheiro com o qual ele já havia se habituado, mas ainda não sabia especificar.

Bahtim, 28 de Novembro, 1999 - Pelo que contou, é a quinta vez que seus pais mudam de cidade em 5 anos e nunca souberam lhe dar uma explicação aceitável. Desde pequeno foi dotado de uma sagacidade ímpar, uma criança que sempre soube deixar os pais boquiabertos com seus questionamentos e argumentações incrivelmente plausíveis e convincentes, mas nunca conseguiu saber o porquê de tantas mudanças, tantas cidades, tantas pessoas diferentes. Por conta disso acabou culpando seus pais por nunca conseguir fazer amizades, nem se aproximar demais das pessoas, embora sempre conseguisse o que queria.

Bahtim, 29 de Novembro, 1999 - Hoje no colégio sentiu mais uma vez a crueldade humana. O chamaram de aberração. Sua aparência de fato nunca foi das melhores e com o passar do tempo a natureza não o vem ajudado muito, por vezes quando se vê no espelho chega até a se achar um tanto quanto animalesco.

Cap 2. - O Despertar da Fera.

Samannud, 11 de Maio, 2004 - Manhã - Maldito telefone! Nunca se deu muito bem com aparelhos eletrônicos, aliás sua relação com aparelhos só não é tão instável quanto sua relação com as pessoas. Beirando os quinze anos, com um circulo social de certa forma estável consegue ainda assim se sentir só. Talvez por conta do ocorrido nos últimos meses.

Na festa de virada de ano cristã, (que apesar de suas crenças passou a freqüentar, afinal é apenas mais uma data comercial) conheceu uma garota que era diferente das outras pessoas, ela não tinha por ele a estranha repulsa que a maioria não fazia questão de esconder, a única pessoa de fora de sua família que não exalava o "cheiro de medo", como passou a chamar aquela sensação estranha. Os meses se passaram e com o tempo foram ficando próximos, próximos demais. Quando achou que tudo em sua vida estava mudando veio o dia fatídico, em meio a uma discussão sem sentido, a qual já sabia que iria ganhar por força do hábito, acabou se descontrolando e sem perceber a força descomunal que o acometeu tomou-lhe das mãos o caderno com anotações pessoais (ele nunca teve contato suficiente com alguém pra saber da existência ou significado de diários) e arremessou edifício abaixo. Embora parece algo trivial, para uma garota de 15 anos, gênio forte (E "Cria de Fenris", embora ainda não soubesse), aquilo foi mais que suficiente para o rompimento de quaisquer laços afetivos. Desde aquele dia ela passou a despreza-lo.

Essas lembranças não costumam lhe ser muito agradáveis. Nunca entendeu o porquê daquela estranha reação, nem o porquê do rompimento de uma amizade que parecia tão pura e verdadeira, desde então passou e se relacionar minimamente com as pessoas como fizera ao longo de toda sua vida.

Tarde - Tem sido um dia excepcionalmente estranho, desde a manhã tem se sentido desconfortável, inquieto, como se algo estivesse para acontecer. Finalmente o celular resolveu funcionar! Havia decidido procurar a amiga a qualquer custo para esclarecer a situação. Depois de tentar a manhã inteira sem sucesso, uma vez que o celular não estava afim de colaborar, conseguiu telefonar. Após alguns toques ela atendeu, estava aflita, afoita, como se estivesse correndo ou fugindo de algo. Perguntou onde ela estava, ela não soube dizer a rua exata mas ao menos o bairro conseguiu. Com uma velocidade sobre-humana correu, desesperadamente, como jamais havia corrido antes. Correu ininterruptamente por cinco minutos, talvez mais, as pessoas ao redor olhavam aquilo com estranheza mas não é como se não estivesse acostumado.

Chegou a um bairro estranhamente deserto, abandonado mesmo. Como ela poderia estar num lugar como esse? Não havia nada ali! Então sentiu um cheiro forte, não era o mesmo cheiro de medo que as pessoas exalavam em sua presença era algo... pior... Foi algo que lhe foi dominando os sentidos. Então viu a cena que culminou em seu total descontrole: sua amiga que corria desesperadamente, entrou em pânico e para seu espanto tomou a forma de um imenso e arrebatadoramente feroz lobo marrom, contudo para seu maior espanto viu que os perseguidores eram dois lobos negros, tão musculosos que eram deformados, de focinhos curtos e orelhas agudas. Foi então que percebeu que eles não eram simplesmente lobos, pois eram bípedes e um deles carregava em suas garras um enorme punhal prateado que com uma destreza sobrenatural cravou no peito do enorme lobo marrom que havia armado um ataque. O lobo marrom caiu quase que em câmera lenta diante seus olhos e assumiu mais uma vez a forma daquela que antes fora sua amiga mais próxima, a pessoa que nunca teve medo ou vergonha de ser vista em sua companhia. Aquilo lhe tomou a mente de tal forma que da forma que estava pulou para cima do lobo que havia desferido o golpe contra sua amiga e antes de atingir o alvo com seus punhos percebeu que eles haviam se tornado garras e essas garras cravaram de maneira brutal no focinho de um dos lobos arrancando-lhe a mandíbula e despedaçando parte do crânio e no instante seguinte o lobo tornou-se um homem deformado e morto. O outro lobo que, ao ver o companheiro caindo desfalecido partiu ferozmente para o ataque, cravando-lhe os dentes em um dos braços e com a garra desse mesmo braço o chacal no qual o garoto havia se tornado atravessou o tórax do lobo negro, roubando-lhe a vida junto com o coração ainda pulsante do outro lado.

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